quinta-feira, 22 de maio de 2014

EIGER ACIMA

Na próxima quarta-feira embarco mais uma vez para a Europa. No dia sete de junho, vou completar meus cinquenta anos da maneira que sempre planejei: sentindo-me cidadão do mundo. Dessa vez não visitarei minha querida Berlim. Em primeiro lugar, pisar novamente em Frankfurt, depois de vinte e nove anos. Passear pelo conjunto arquitetônico de Saalgasse, onde tive minha primeira discussão “presencial” sobre modernismo x pós-modernismo. Lembram-se disso, Jeanty e Desiree? Depois Zurique, estou tentando visitar o Calatrava. No dia seguinte, um “rolezinho arquitetônico” de primeira, com meus novos amigos Rafael Milan e seu irmão Gustavo. Basiléia, Riehen, Weil am Rhein, Berna. A partir daí, acompanhado da querida Carla. Davos, Klosters, dar uma voltinha no Liechtenstein (adoro esse lugarzinho), Amsterdam, conhecer mais um projeto da dupla Delugan Meissl, cabeças boas da arquitetura, percorrer Oosterdokseiland, meu eterno projeto de mestrado e ver mais algumas novidades. Budapeste, onde espero ter um dia igual ao que tive com Valéria Carrete em Praga em 2009, apenas ouvindo concertos de música clássica e finalmente Mürren. Quero começar o dia do meu aniversário na base do Eiger, a montanha que desafia e enfeitiça todos os escaladores. E terminar no topo do Jungfrau, com fones de ouvido, refletindo sobre a vida e observando o mundo de cima. Quando estivemos lá em 2004 o tempo não permitiu que fizéssemos isso, não é cabeçone? Quando voltar, uma nova fase da vida vai começar, mas desconfio que continue a andar de moto, dormir pouco, malhar que nem moleque, fazer minhas dietas malucas e tomar sol no rosto. Como costumo dizer, espero que dure mais cinquenta anos, pois apesar de tudo, simplesmente adoro viver. Sendo assim, quero agradecer em primeiro lugar a Deus, por ter permitido que chegasse até aqui, ter me tornado arquiteto e de quase todas as formas ter tido a vida que sempre quis. Agradecer aos meus pais, Amos e Neusa, pelo amor, pela formação, por tudo que me deram e por terem sempre estado ao meu lado. Ao meu irmão Adriano Spina, pelo carinho e pelo apoio. Às vezes, parece que você é o irmão mais velho, não é? À Neida, Lê, Tio Daniel e Tia Vera, pessoas por quem tenho um carinho especial. À Teca, Fê e Cíntia, tenham certeza, sei que viver comigo não fácil. Fomos afastados pela vida e pelo tempo, mas quando a gente se encontra parece que foi ontem, não é assim, Reinaldo, Paulo e Carlos? Sou um cara privilegiado, pois sempre estive cercado de gente da melhor espécie, como meus tios e meus primos. Eber, Noelia, Li, Ortalli, Joseph e a turma do Liceu, Carlão, Ira, Wilsão, tia Neide, Arlindão, tia Iris, Caco, Wil, Dé, Márcio, Guga, Ki, Cesar, Franço, Jetão e Rubia, a turma das Vertentes, Henrique e o pessoal do cursinho, seu Rui, dona Tereza, Rui Miguel e Fernanda, Miguel, Miriam, Mimó, Ieda, Marcelo, Silvio, Flavio, Rô e a turma toda do Mackenzie, Miguel Forte, um grande inspirador, Paulo e Caioá, Carlos Lopez, Alberto Werebe, Claudio Schechner, Amaury, Adelson e Antonio Carlos de Almeida, Alessandra Bronstein, Alex Lypszic, Patricia Lopes, Denise, Ulla, Min, Silvia Neves, Lili, Sonia, Ana Claudia, Adriana Tutundjan, Angela Ometto, Karen, Andreia Vicente e minhas ex-alunas da Panamericana, Adriana Chieco, a família Novaes Ferreira, Maurício e Tatiana, Rita e Toninho, Andrea Giusti, Desiree Castelo Branco, Nelson e Patricia Pascale, Lilian Catharino e muitos mais. Um super abraço para o meu amigo Maycon Fogliene e um beijo especial para você more, Renata Damião. Ultimamente, Lilian Barreira e a Bru, minha gatinha, pela Cris, Gustavo, Claudia Hernandez, a galera da Adesp, Sergio de Oliveira, Ana Wey, Dani Colnaghi e Vilma Massud. Rogério, Débora, Luiz e Claudia Oliveira e até pela Ana Julia Nolan, que me proporcionou a experiência de ser Theodore Twombly. O meu presente é vocês fazerem, ou terem feito, parte da minha vida. Portanto, Eiger acima, sempre, com garra.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A VINGANÇA DA ESQUERDA

Tendo a historiografia como um dos meus hobbies, acho que desvendei finalmente o que acontece no cenário político social do Brasil dos últimos anos. Descobri em recente pesquisa um documento que esclarece as principais questões: “CARTA ABERTA DA ESQUERDA AO POVO BRASILEIRO” (final de 1974) Caros operários e camponeses: Sendo vocês uma massa ignorante, desde 1962 resolvemos tomar a dianteira e decidir por vocês o que seria melhor para o nosso país. As coisas não aconteceram do jeito que planejamos, por vocês lutamos destemidamente, fomos presos, humilhados, torturados e alguns foram mortos. Nós, os que sobramos, fomos obrigados a viver em Havana, Santiago (até que também nos expulsassem de lá) e em Paris. Vocês não nos deram o respaldo necessário, preferiram apenas trabalhar, assistir novelas, e optaram pela cachaça e o futebol. Pois bem, então, decidimos nos vingar: Daqui alguns anos, GRAÇAS A VOCÊS, vamos tomar o poder. Vamos deixá-los em estado de ignorância permanente. Vamos dar crédito para que possam comprar o tão sonhado automóvel, fogão, geladeira, televisão e todo tipo de eletrodoméstico que possa aliená-los cada vez mais. Vocês vão continuar na novela, na cachaça e no futebol. E o melhor, nem vão precisar mais trabalhar. Vamos sustentá-los, com subsídios que vamos chamar de bolsa. Bolsa isso, bolsa aquilo. Mas tudo isso vai ter um preço. Vamos tomar este país de assalto. Roubá-los dentro e fora da lei. Se um dia descobrirem, vamos comprar até os juízes do Supremo Tribunal Federal. Se por um grande azar formos condenados, vamos passar alguns meses em regime aberto, vocês logo vão nos esquecer, e voltaremos à ativa, pois nem todos nós vamos estar na cadeia. O resto da turma vai continuar a governar o país. Vocês vão pagar caro pela derrota que tivemos......

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

GOD BLESS MY SMARTPHONE

Deus, obrigado por ter me dado um smartphone! Agora todos podem saber em que lugar estou, a que horas estou, com quem estou, o que estou fazendo e como me sinto. Todo mundo pode ver o quanto sou popular, como me divirto na balada, que amigos maravilhosos eu tenho. Com ele registro todos os drinks, entradas, pratos principais, sobremesas e o café das minhas refeições, espero que apreciem. Com ele posso tomar um chá com minhas amigas e ignorá-las solenemente, mas qual é o problema, elas também estão entretidas com os delas. Com ele posso almoçar com os amigos do escritório e dar boas gargalhadas compartilhando as últimas idiotices que recebemos pela internet. Com ele acompanho a opinião das celebridades sobre todos os assuntos, assim me mantenho sempre informado. Com ele posso frequentar a academia, e entre uma série e outra de exercícios trocar uma mensagem, assim não preciso me concentrar nessa coisa chata que me obrigaram a fazer. Com ele posso viajar pelo mundo, e a cada momento me fotografar em belas cidades ou com belas paisagens ao fundo. Não estou prestando muita atenção a elas, afinal, o que importa é que os outros vejam que estou por lá. Com ele as horas de insônia voam e nem preciso tentar entender porque não consigo dormir. Ufa, não preciso mais pensar em mim mesmo! Com ele consigo suportar as filas e a espera das consultas médicas. Não preciso mais observar a vida, as pessoas que me cercam, uma curiosidade ou outra, um simples gesto, ou seja, as pequenas coisas, afinal, quem liga para isso? Meu smartphone é minha droga, não é tão cara, é lícita, não me traz ressaca ou rebordosa. Meu smartphone é o meu melhor amigo, meu fiel companheiro, meu amante, meu confidente. Sempre me trata bem, nunca me abandona ou rejeita, está junto a mim vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Faço aqui um pedido aos que me enterrarem: não se esqueçam de colocá-lo no meu caixão.....

quarta-feira, 13 de março de 2013

O TRAÇO PROJETUAL

O texto “PESQUISA NA ÁREA DE PROJETO” de Abrahão Sanovicz nos aponta um detalhe muito interessante, que na maioria das vezes não damos conta. ”Na medida em que estamos trabalhando e que nossas pranchetas estão ocupadas, cada traço que fazemos significa trabalho para bastante gente. São os materiais que se usa, é a mão de obra empregada, o transporte necessário, a indústria ativada, coisas assim. Nosso trabalho é de ponta. Quando desenhamos dois traços, isto ativa toda uma população. É necessária a consciência do desdobramento dos mesmos. É um dos aspectos do nosso trabalho”¹ Peço permissão ao arquiteto para ir além. Sanovicz não foi meu professor direto, mas certos personagens acabam sendo adotados como mestres por todos nós, profissionais do projeto. O traço projetual é um simples gesto, mas pode determinar as mais incríveis consequências, diretas ou indiretas, na vida de todas as pessoas. O traço controverso das fronteiras separam nações, povos, etnias, crenças, economias, estabelecem novas ordens, geram conflitos, criam e destroem vidas. O traço autoritário do muro de Berlim isolou avós, pais, filhos, companheiros, amigos. O traço do sistema viário desapropria, desaloja, desafoga, alivia, renova. O traço mágico de Hadid converteu-se, o traço vigoroso de Libeskind ainda desagrega, o traço concreto de Ando distingue, os traços sinuosos do modernismo heterodoxo de Aalto e Niemeyer desafiam o de Mies, e o traço leviano do modismo banaliza. O traço que compartimenta nossas casas traz a hospitalidade, o convívio, a tranquilidade, a luz e o calor. O traço apaixonado e inteligente do design traz a inovação, o conforto, a emoção. Será que o arquiteto do universo sabia desenhar? SANOVICZ, Abrahão. A pesquisa na área de projeto. In SEMINÁRIO NATUREZA E PRIORIDADES DE PESQUISA EM ARQUITETURA E URBANISMO, São Paulo. São Paulo, FAUUSP, 1990, p.109 a 111 (texto elaborado originalmente como base para discussão no Grupo de Disciplina de Projeto de Edificações, 1985).

domingo, 10 de março de 2013

O FACEBOOK E OS QUE PARTIRAM

Nestes últimos meses três amigos queridos partiram inesperadamente. Mas como num passe de mágica, com um clique de mouse os trazemos de volta. Não podemos mais compartilhar a presença física, não podemos mais desfrutar da companhia, não podemos mais contar estórias e dar risadas, e num momento de deslize, até fazer uma fofoquinha. Mas podemos olhar as fotos, recentes, antigas, as que estamos juntos, as alegres, as que marcaram a vida da pessoa. Podemos ver as postagens, os comentários, relembrar as particularidades de cada um. Estar no Facebook é um pouco como estar ao lado. Por isso, peço aos familiares que apesar da dor da perda, não eliminem ou removam o conteúdo dessas páginas. Para alguns, é a maneira imediata de matar a saudade quando ela aperta.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

OSCAR, O MENTIROSO

Oscar Niemeyer era antes de tudo um mentiroso. Seu famoso comentário “a arquitetura não é importante, o importante é a vida” nunca correspondeu à sua trajetória. A arquitetura era a sua vida. Durante os cento e quatro anos da sua existência, Oscar não foi um homem de família, nunca morou em imóveis luxuosos, não circulava em carros caros e não usava roupas vistosas. Não tinha hobbies, nunca praticou esporte, morria de medo de andar de avião e não gostava de viajar. Adorava um bate-papo, era chegado a uma festinha, mas não correu atrás das mulheres curvilíneas de que tanto falava. Não bebia exageradamente nem usava drogas. Apenas respirava projeto, mesmo por trás das cigarrilhas. Teve padrinhos de peso, como Juscelino Kubitscheck, que lhe permitiram explorar todo o seu talento e exercitar toda a criatividade e a inventividade que sempre defendeu. Fez Joaquim Cardozo e José Carlos Sussekind arrancarem os cabelos para potencializar a forma, o elemento principal das suas obras. Junto a Lúcio Costa, numa prolífica relação de décadas que resultou entre outros Brasília, alterou a proposta original de Le Corbusier para o prédio do Ministério da Educação no Rio de Janeiro, e segundo alguns, no conjunto arquitetônico das Nações Unidas em Nova York, percebe-se muito mais o traço de Niemeyer do que o do mestre suíço. Foi autor de centenas de projetos, onde o caráter escultórico predomina, e de algumas obras-primas, como o Museu de Arte Moderna de Niterói. Foi um dos maiores nomes, senão o maior, da arquitetura de autor. A vaidade de Niemeyer estava na modéstia. Desde cedo obteve reconhecimento internacional e inspirou várias gerações de projetistas, no Brasil e no exterior. O folclore também ronda a vida do arquiteto, como por exemplo, quando num arroubo de ateísmo comentou: -Vou levando a minha vida e seja o que Deus quiser. Ou, quando foi apontado ao lado de Fidel Castro como os dois únicos comunistas vivos no planeta. Nunca pegou em armas contras as ditaduras, e o exílio permitiu que pudesse mostrar ao mundo sua obra. Por outro lado, ajudava sem pestanejar os amigos em dificuldades. Apesar de nunca ter cultivado uma vida saudável, morreu lúcido, e trabalhou até seus últimos momentos, como os verdadeiros arquitetos fazem. Na semana em que o frevo foi alçado à condição de patrimônio cultural da humanidade, em mais uma evidente mostra de que continuamos sendo vistos como o país do futebol e do carnaval, desaparece Oscar Niemeyer, esse sim, um exemplo de orgulho para os brasileiros, um exemplo do Brasil que pensa.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O MINIMALISMO NA LÍNGUA BRASILEIRA

Observamos há muito tempo, a drástica transformação da língua portuguesa, ou melhor, da língua brasileira. Apenas alguns termos são necessários para que pessoas de todas as classes sociais, idades, raças, crenças, preferências sexuais, etc, estabeleçam comunicação, como no exemplo: OS MANO TÃO NA PARADA....., E VÉIO, O BAGULHO É SUAVE. SÓ TEM TRUTA NA FITA, SEM TRAÍRA, TÁ LIGADO? SEI QUE TÃO ME ZUANDO MALUCO, MAS TÔ DE BOA. É NÓIS..... Talvez seja mais fácil falar dessa maneira, afinal, não seria necessário frequentar escolas, pois aprendendo poucas palavras, podemos nos expressar sobre qualquer assunto. Imaginem a economia caso essa simplificação do vocabulário fosse oficializada: não haveria mais gastos com educação, os livros (será que existiriam?) seriam muito menores e mais baratos, os dicionários poderiam ser usados como papel higiênico e todos nos entenderíamos de maneira muito mais simples. Tão simples, que bastaria um sistema prisional da pior qualidade para educar o povo.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

COMUNISTAS, SOCIALISTAS, PETISTAS E FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

Para você Nemeth, que está com saudade das minhas crônicas.

Acho que há muitos anos está claro o que move esses grupos. Não é a ideologia, mas a luta pelo poder, pelo dinheiro na sua forma mais vil, a corrupção, e pela vagabundagem. E isso apenas ratifica minha decisão de migrar para o outro lado do espectro político.
Quando jovem, era apaixonado pela época 64/74, tornei-me um estudioso do período, a ponto de ficar horas no telefone com Jacob Gorender, autor de “Combate nas Trevas”, o livro referência para entender tudo aquilo. Alguns anos depois, comecei a perceber que não passava realmente de um romance. Toda aquela efervescência intelectual nunca encontrou respaldo nas massas, pois as aspirações do homem sempre estarão no sentido contrário da chamada “igualdade social”. Meu respeito por homens comuns como Gorender permanece, ao contrário de outros líderes, que aqui desmitifico sem temor:

Vladimir Lenin: o grande líder bolchevique tornou-se mártir, pois morreu antes de fazer as idiotices inerentes ao poder.
Josef Stalin: extremamente ignorante, é de longe o maior assassino da história, com 20 milhões de mortes atribuídas a ele, apenas entre os desafetos políticos.
Leon Trotsky: intelectual prolífico, falou, escreveu e brigou bastante. No final, provou que Frida Kahlo tem um péssimo gosto para homens (e ele um péssimo gosto para mulheres).
Enver Hoxha: o isolacionista albanês teve como grande legado transformar seu país em modelo para o PC do B.
Mao Tse Tung: o grande timoneiro só não explicou aos seguidores no “Pequeno Livro Vermelho” como transar com centenas de jovens militantes do partido.
Pol Pot: perde para Stalin em termos quantitativos, mas foi extremamente eficaz dizimando 25% da população do Camboja por motivos “ideológicos”.
Nicolau Ciaucescu, Josip Tito, Kim Jong-Il e outros: nada fizeram além de se aproveitar das benesses do poder.
Ernesto “Che” Guevara: o grande ícone da liberdade matou muitos, e foi um pífio Ministro da Indústria de Cuba.
Fidel Castro: como já disse numa crônica anterior, somente bons hospitais não garantem a felicidade de um povo.
José Dirceu: de maior líder estudantil passou a maior mafioso do Brasil.
Franklin Martins: o autor do manifesto no seqüestro do embaixador americano em 1968 foi o Ministro da Comunicação Social de Lula que pretendia calar todos.

Portanto, temos aí alguns exemplos de “verdadeiros socialistas”.

Meu caro Marx, não fique triste, você foi bem intencionado. Mas foi pura utopia. Além disso, entenda, o estado como pai é terrível, como irmão é horrível, e como patrão é sofrível.
O funcionalismo público, da maneira como está no Brasil, é uma calamidade.

Usando exemplos de São Paulo, experimente precisar de um documento da 7ª Vara de Família do Fórum João Mendes, renegociar um PPI, ou aprovar um projeto na Subprefeitura da Vila Mariana. Eu, que infelizmente tenho esse maldito hábito de querer me comportar como cidadão, que detesta pagar os outros para fazer aquilo que é meu por direito, sou um eterno inconformado com o atendimento que nos é oferecido por essa cambada, respaldada pelo disparate “estabilidade de emprego”. Não fosse assim, não veríamos em todos os lugares os cartazes “é proibido desacatar o servidor público sob pena de multa ou detenção”.
Nas minhas últimas visitas a essas repartições procurei me distrair um pouco, e observei uma questão curiosa: como as funcionárias dessas repartições se parecem fisicamente. Perguntei a um colega sentado ao lado que me explicou:

-Todas freqüentam a Academia do Estado!

A Academia do Estado tem um programa de treinamento físico-comportamental cujos objetivos são:

*fazer todos os movimentos em câmera lenta
*ficar sentada todo o expediente
*conversar o máximo possível com as colegas
*atrofiar de vez o já diminuto cérebro
*comer apenas bolos e bolachas
*tomar apenas refrigerante e cerveja
*vestir-se da maneira mais ridícula para a idade e o peso

É por isso que todas apresentam aquele perfil característico de instrumento de campanário de igreja, prestes a badalar, não para avisar do horário da missa, mas para torrar a minha paciência e deixar claro que tudo continua errado.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A ARQUITETURA DO 11/9

A arquitetura pode brotar dos mais insólitos eventos na história da humanidade, até dos mais trágicos. Os esforços de reconstrução, em decorrência dos atentados de 11/9, começam a se materializar dez anos depois, e assumem papel de destaque no cenário da arquitetura contemporânea.
As torres gêmeas do World Trade Center foram alvo dos extremistas da Al Qaeda, assim como seu arquiteto, Minoru Yamasaki, foi alvo dos pós-modernistas radicais, que decretaram o fim do movimento moderno a partir da demolição do Conjunto Pruitt-Igoe, em 1955, de sua autoria.
O arquiteto faleceu em 1986, sem presenciar o desaparecimento de sua obra prima e a empresa que ele fundou, Yamasaki & Associates, fechou as portas há apenas dois anos atrás, vítima do colapso no setor imobiliário americano, mas, com certeza, desde muito antes o moral da equipe não era mais o mesmo.
Este texto aborda o fascinante empreendimento que resultou desse odioso gesto, fruto do fanatismo religioso.
Criada em julho de 2002, a Lower Manhattan Development Corporation, tem como objetivo a reconstrução dos edifícios, o incremento à ocupação da zona sul da ilha e a perpetuação da memória dos mortos nos ataques.
Após o descarte das propostas iniciais de conhecidos arquitetos de todo o mundo, que se uniram em equipes para projetar o novo complexo, em 2003, o plano diretor de Daniel Libeskind foi escolhido. Desentendimentos com o arrendatário Larry Silverstein levaram à contratação de consagrados escritórios para a elaboração dos projetos das novas torres. O arquiteto Michael Arad foi o vencedor do concurso para o projeto do memorial, entre 5.200 inscritos e o paisagismo ficou a cargo de Peter Walker, que se juntou à Arad na etapa final da competição, a fim de “humanizar” a proposta.
A seguir, os projetos um a um:
World Trade Center 1: David Childs, Skidmore, Owings and Merrill. Também chamada de Liberty Tower é a mais interessante. A planta quadrada no embasamento se transforma gradativamente em octogonal, gerando planos e arestas onde podemos observar várias referências: uma variante simples do projeto de Libeskind para o edifício principal, a escala proeminente das torres destruídas, o perfil de obelisco, e a re-edição da Estátua da Liberdade. A grande antena paira acima do skyline, marcando o ressurgimento do complexo.
World Trade Center 2: Foster and Partners: podemos reconhecer o respeito ao plano original, o edifício é uma composição de quatro prismas de topo chanfrado interligados em planta por um core de forma cruciforme. Apesar da implantação forçada pela conformação do lote, o ático parece fazer reverência à praça. Com certeza remete ao maciço bloco único proposto por Foster em 2002 e à Torre Hearst, também em Nova York.
World Trade Center 3: Rogers, Stirk, Harbour and Partners. Apesar de pregar o oposto, o projeto de Rogers foge do esquema de Libeskind pelo volume monolítico levemente escalonado, pelo exoesqueleto estrutural e pelo coroamento composto de quatro antenas, que lembram o edifício PPG, de Philip Johnson. É favorecido pela orientação diretamente frontal à praça. Aparentemente, a contratante Silverstein Properties apostou no confronto direto dos lordes ingleses em solo americano.
World Trade Center 4: Maki and Associates. Talvez a disciplina e a personalidade dos japoneses, muitas vezes avessos ao star system da arquitetura tenham se refletido nesse projeto. O prédio de Fumihiko Maki é um volume simples, seccionado na porção superior, que se volta diretamente para a praça e à torre 1. O respeito ao plano diretor é evidente, e podemos concordar com o autor quando diz que o resultado denota quietude e dignidade.
Memorial: sem dúvida, o conjunto “Reflecting Absence” é o que mais chama atenção. Apresenta uma incrível carga poética, ao mesmo tempo dramática, talvez só comparada ao Memorial dos Judeus Mortos de Peter Eisenman em Berlim. Os espaços vazios, as quedas e os espelhos d’água simbolizam de maneira incontestável o triste acontecimento que marcou a história contemporânea.
Pavilhão do Memorial e Museu do 11 de Setembro: Snøhetta. O projeto do escritório norueguês tem como função abrigar e conduzir o visitante ao museu, logo abaixo. O volume rompe com a horizontalidade da praça, induz a circulação, e a transparência parcial das fachadas permite a penetração da luz solar nos níveis inferiores. A presença de dois “tridentes estruturais” remanescentes da torre sul recorda as imagens marcantes dos primeiros dias após o desabamento.
Museu Nacional do 11 de Setembro: Davis Brody Bond, atualmente trabalhando em sociedade com Aedas: o projeto tira partido do subterrâneo do sítio, tem enorme impacto o muro de contenção preservado e emprega vários elementos remanescentes do período de escavação, e das homenagens prestadas pelos parentes dos mortos e pelo povo de Nova York. Cabe lembrar que o subsolo do complexo foi alvo de outro atentado, em 1993, igualmente executado pelos terroristas de Osama Bin Laden.
Hub de Transporte: Santiago Calatrava. Desta vez, o pássaro aterrissou entre as “torres britânicas”. A estrutura simétrica é levemente rotacionada em relação aos volumes vizinhos, as “asas” se apóiam, liberando a planta ao nível do pavimento térreo configurando a “gare”. A referência à Estação Lyon-Satolas é imediata.
Performing Arts Center: Frank Ghery, ainda sem dotação orçamentária completa, o estudo preliminar apresentado revela o arquiteto em busca de novos caminhos. Desperta curiosidade saber como um programa que exige amplos espaços foi distribuído numa série de sólidos empilhados “morro acima”.
Concluindo, o empreendimento poderia se tornar o mais novo desfile de vaidades da arquitetura mundial, mas antes disso, é um marco da arquitetura do nosso tempo, um símbolo da superação e do renascimento, e a perpetuação da memória de um dos mais lamentáveis acontecimentos provocados pelo ódio dos homens contra os homens.
Seria também o caso de imaginar o que teria acontecido na capital americana, além da destruição de parte do Pentágono, caso os bravos passageiros não tivessem conseguido dominar os seqüestradores do vôo United 93, que acabou caindo numa fazenda da Pensilvânia, e que tinha como destino o prédio do Capitólio.